terça-feira, 22 de abril de 2025

A Lenda do Vinho Casillero del Diablo

Dizem que tudo começou em 1883, quando Dom Melchor de Concha y Toro trouxe da França as primeiras videiras que mudariam o destino daquelas terras chilenas, que cruzaram o oceano num navio envolto por brumas e silêncios, observadas apenas pelas gaivotas e pelo som do vento sobre o mar. Eram cepas nobres, lendárias, cujas raízes fincaram-se em solo fértil como se já o conhecessem.

Com o tempo, aquelas uvas deram origem a um vinho profundo, escuro, quase místico. Dom Melchor, consciente de sua preciosidade, separou algumas das melhores garrafas e as guardou sob chave, em um lugar secreto de sua bodega — um subterrâneo sombrio, conhecido apenas por ele.

Mas mesmo trancadas, as garrafas começaram a desaparecer.

Roubos misteriosos, discretos, sem sinais de arrombamento. Como se alguém — ou algo — atravessasse as paredes de pedra apenas para provar aquele néctar proibido. Cansado das perdas, e sem desejar envolver a justiça comum, Dom Melchor espalhou um boato.

Um aviso. Uma ameaça. Uma lenda.

Contou-se, em voz baixa, que naquele lugar vivia uma presença infernal. Que a adega era guardada por ninguém menos que o Diabo.

E o povo acreditou.

Talvez pelo cheiro de enxofre que alguns diziam sentir nas noites mais úmidas, ou pelo brilho vermelho que cintilava entre as barricas quando a luz das velas oscilava, houve até quem jurasse ter ouvido passos — não humanos — nas madrugadas, vindos de dentro da terra.

O boato espalhou-se como fogo em palha seca. Em pouco tempo, ninguém mais ousou aproximar-se da bodega. O temor se instalou. O silêncio reinou. E Dom Melchor, enfim, pôde desfrutar em paz do vinho que produzira — sem olhos invejosos, nem mãos curiosas.

Nunca houve confirmação oficial sobre a tal entidade. Nunca se descobriu quem ou o que estava por trás dos roubos.

Mas até hoje, diz-se que a lenda permanece viva.

A lenda de que o Casillero del Diablo, o “pequeno cofre do Diabo”, segue guardando seus segredos sob a terra.

E que, ao abrir uma garrafa, é possível ouvir — por um breve instante — um sussurro vindo das profundezas.


Epílogo

Histórias como a do Casillero del Diablo nos lembram que, por trás de cada tradição ou produto consagrado, muitas vezes há ecos de um tempo em que o mistério era tão valorizado quanto o sabor.

Mais do que uma simples estratégia de marketing, a lenda criada por Don Melchor — ou talvez descoberta por ele — atravessou o tempo e permanece viva na memória coletiva. E, como toda boa lenda, ela merece ser contada e recontada, com respeito e um toque de imaginação.

Este conto foi adaptado livremente da tradição oral e da história da vinícola Concha y Toro, com base na narrativa apresentada no vídeo oficial da marca.

A seguir, você pode assistir ao vídeo original que conta a lenda do Casillero del Diablo — e tirar suas próprias conclusões:



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