segunda-feira, 21 de abril de 2025

A Garra do Macaco

Parte I

Lá fora, a noite estava fria e chuvosa, mas na pequena sala da Villa Laburnam, as cortinas estavam fechadas e o fogo ardia vivamente. Pai e filho jogavam xadrez — o primeiro, cujas ideias sobre o jogo envolviam mudanças radicais, colocava seu rei em perigos tão agudos e desnecessários que até provocavam comentários da senhora de cabelos brancos que tricotava pacientemente ao lado da lareira.

— "Escute esse vento," disse o Sr. White, que, tendo percebido um erro fatal tarde demais, agora tentava evitar que o filho o notasse.

— "Estou ouvindo," respondeu o outro, fitando o tabuleiro com seriedade enquanto estendia a mão. "Xeque."

— "Duvido que ele venha essa noite," disse o pai, com a mão pairando sobre as peças.

— "Xeque-mate," respondeu o filho.

— "Esse é o problema de morar tão longe de tudo," resmungou o Sr. White, com uma explosão de violência inesperada. "De todos os lugares lamacentos e isolados para se viver, esse é o pior. A trilha está um lamaçal, e a estrada virou um rio. Não sei o que passa na cabeça das pessoas. Só porque só duas casas da rua estão ocupadas, acham que não importa."

— "Não se preocupe, querido," disse a esposa, suavemente. "Talvez você vença a próxima."

O Sr. White ergueu o olhar rapidamente, a tempo de interceptar um olhar cúmplice entre mãe e filho. As palavras morreram em seus lábios e ele escondeu um sorriso culpado em sua barba grisalha.

— "Lá está ele," disse Herbert White, quando o portão bateu com força e passos pesados se aproximaram da porta.

O velho se levantou apressadamente para receber o visitante e, ao abrir a porta, ouviu-se sua voz acolhedora trocando cumprimentos com o recém-chegado. Este também se queixava do tempo, de modo que a Sra. White murmurou um "Ora, ora..." e tossiu levemente enquanto o marido entrava na sala, seguido por um homem alto e corpulento, de olhos vivos e rosto ruborizado.

— "Sargento-Mor Morris," disse ele, apresentando-o.

O sargento apertou as mãos e, aceitando a cadeira junto ao fogo, observou com satisfação enquanto o anfitrião trazia uísque, copos e colocava uma pequena chaleira de cobre sobre as brasas.

Após o terceiro copo, seus olhos brilharam mais, e ele começou a falar. O pequeno círculo familiar escutava com grande interesse aquele visitante vindo de terras distantes, enquanto ele se recostava na cadeira e contava histórias de cenas selvagens e feitos audazes, de guerras, pestes e povos exóticos.

— "Vinte e um anos disso," disse o Sr. White, acenando para a esposa e o filho. "Quando foi embora, era só um rapazinho no depósito. Agora veja só."

— "Não parece ter sofrido muito com isso," disse a Sra. White, gentilmente.

— "Eu gostaria de ir à Índia," disse o velho, "só pra dar uma olhada."

— "É melhor ficar onde está," respondeu o sargento-mor, balançando a cabeça. Ele pousou o copo vazio e, suspirando suavemente, voltou a balançá-lo.

— "Queria ver aqueles templos antigos, os faquires e malabaristas," disse o velho. "O que era aquilo que você começou a me contar outro dia... sobre uma garra de macaco ou algo assim, Morris?"

— "Nada," respondeu o soldado, apressado. "Ou melhor, nada que valha a pena ouvir."

— "Garra de macaco?" repetiu a Sra. White, curiosa.

— "Bem, é só um pouco do que você poderia chamar de magia, talvez," disse o sargento-mor, displicente.

Os três ouvintes se inclinaram para a frente, atentos. O visitante levou distraidamente o copo vazio à boca e, percebendo, o repousou de volta. O anfitrião o encheu novamente.

— "À primeira vista," disse o sargento-mor, remexendo no bolso, "é apenas uma patinha comum, mumificada."

Ele retirou algo do bolso e ofereceu. A Sra. White recuou com uma careta, mas o filho, pegando o objeto, o examinou com curiosidade.

— "E o que há de especial nela?" perguntou o Sr. White, pegando a pata do filho, examinando-a e depois a colocando sobre a mesa.

— "Foi enfeitiçada por um velho faquir," disse o sargento-mor, "um homem muito santo. Ele queria mostrar que o destino governa a vida das pessoas, e que aqueles que tentam interferir com isso acabam se arrependendo. Ele lançou um feitiço que permitiria a três homens distintos realizarem três desejos cada um."

Seu tom era tão solene que os ouvintes sentiram que sua risadinha anterior soou inadequada.

Parte II

— “Então por que o senhor não faz três desejos, Morris?” perguntou Herbert White, com um sorriso esperto.

O soldado o encarou da forma como a meia-idade costuma olhar para a ousadia juvenil.

— “Já fiz,” disse ele calmamente — e seu rosto avermelhado empalideceu.

— “E os desejos realmente se realizaram?” perguntou a Sra. White.

— “Sim,” respondeu o sargento-mor, e seu copo tilintou contra os dentes.

— “E mais alguém já usou?” insistiu a senhora.

— “O primeiro homem teve seus três desejos, sim,” respondeu ele. “Não sei quais foram os dois primeiros, mas o terceiro foi pela morte. Foi assim que a pata chegou até mim.”

Seu tom era tão grave que um silêncio caiu sobre o grupo.

— “Se o senhor já fez seus três desejos, então ela não serve mais, Morris,” disse o Sr. White por fim. “Por que ainda a guarda?”

O soldado balançou a cabeça.

— “Capricho, suponho,” respondeu lentamente. “Cheguei a pensar em vendê-la, mas acho melhor não. Já causou problemas demais. Além disso, ninguém quer comprar. Acham que é conto de fadas — alguns, pelo menos. E os que acreditam querem testar primeiro e pagar depois.”

— “Se pudesse fazer mais três desejos,” perguntou o velho, olhando firme, “faria?”

— “Não sei,” respondeu o outro. “Não sei.”

Ele pegou a pata e, segurando-a entre o polegar e o indicador, de repente a lançou ao fogo. O Sr. White, soltando um leve grito, se curvou e a tirou das chamas.

— “Melhor deixar queimar,” disse o soldado, solenemente.

— “Se não a quer, Morris,” disse o Sr. White, “então me dê.”

— “Não dou,” respondeu o amigo, com firmeza. “Joguei-a no fogo. Se decidir ficar com ela, não me culpe pelo que acontecer. Jogue de volta nas chamas como um homem sensato.”

O outro balançou a cabeça e examinou com cuidado a nova posse.

— “Como se usa?” perguntou.

— “Segure na mão direita e deseje em voz alta,” disse o sargento-mor. “Mas aviso: as consequências vêm.”

— “Parece coisa das *Mil e Uma Noites*,” disse a Sra. White, levantando-se para preparar o jantar. “Por que não deseja quatro pares de mãos pra mim?”

O marido tirou o talismã do bolso, e os três riram quando o sargento-mor, com expressão alarmada, o segurou pelo braço.

— “Se for desejar,” disse ele com firmeza, “deseje algo sensato.”

O Sr. White guardou a pata no bolso, e puxando cadeiras, convidou o amigo para a mesa. Durante o jantar, o talismã foi em parte esquecido, e depois os três se sentaram para ouvir, fascinados, a segunda leva das histórias do sargento-mor na Índia.

— “Se a história da garra de macaco não for mais verdadeira que as outras que contou,” disse Herbert, quando a porta se fechou atrás do visitante — que partira a tempo de pegar o último trem — “então não vamos tirar muito disso.”

— “Você deu algo a ele pela pata, pai?” perguntou a Sra. White, observando atentamente o marido.

— “Uma ninharia,” respondeu ele, corando levemente. “Ele não queria, mas insisti. E ainda me aconselhou a jogar fora.”

— “Claro,” disse Herbert, fingindo horror. “Ora, vamos ficar ricos, famosos e felizes. Deseje ser imperador, pai — assim ninguém mais manda em você.”

Ele saiu correndo pela sala, perseguido pela Sra. White com uma almofada de sofá nas mãos.

O Sr. White pegou a pata do bolso e a observou com desconfiança.

— “Não sei o que desejar, pra ser honesto,” disse, lentamente. “Parece que já tenho tudo o que preciso.”

— “Se pagasse as dívidas da casa, já seria ótimo, não seria?” disse Herbert, pondo a mão no ombro do pai. “Deseje duzentas libras. Isso bastaria.”

O velho, sorrindo envergonhado de sua própria credulidade, ergueu o talismã. O filho, com expressão solene (quase estragada por uma piscadela para a mãe), sentou-se ao piano e tocou alguns acordes dramáticos.

— “Desejo duzentas libras,” disse o Sr. White, em voz firme.

Um estrondo forte do piano respondeu às palavras, seguido por um grito assustado do velho. A esposa e o filho correram até ele.

— “Ela se mexeu!” gritou ele, olhando com repulsa para o objeto no chão. “Enquanto eu desejava, ela se contorceu na minha mão como uma cobra.”

— “Bem, não estou vendo o dinheiro,” disse o filho, apanhando a pata e colocando-a de volta sobre a mesa, “e aposto que nunca verei.”

— “Deve ter sido impressão sua, pai,” disse a esposa, preocupada.

Ele balançou a cabeça.

— “Não importa. Não aconteceu nada, mas me deu um susto mesmo assim.”

Sentaram-se novamente junto ao fogo, enquanto os dois homens fumavam. Do lado de fora, o vento ganhava força, e o velho se assustou com o bater de uma porta no andar de cima. Um silêncio estranho e deprimente tomou conta dos três, que só se ergueram quando o casal resolveu se recolher para a noite.

— “Aposto que você vai encontrar o dinheiro amarrado num saco bem no meio da sua cama,” disse Herbert ao desejar boa-noite, “e alguma coisa horrível sentada em cima do armário te observando enquanto você embolsa os ganhos malditos.”

Ficou sozinho à meia-luz, observando as chamas se apagarem e vendo rostos nelas. O último rosto era tão horrível e simiesco que ele o encarou, boquiaberto. Tornou-se tão vívido que, com um riso nervoso, procurou na mesa um copo com água para jogar nas brasas. Sua mão tocou a pata do macaco, e com um leve arrepio, limpou-a no casaco e foi dormir.

Perfeito! Então vamos seguir com a **Parte III** e concluir esse clássico da literatura de horror com a mesma pegada — linguagem clara, tom sombrio, suspense crescente e respeito total ao estilo original.

Parte III

Na manhã seguinte, à luz do sol de inverno que iluminava a mesa do café, os medos da noite anterior pareceram ridículos. O ambiente agora exalava uma serenidade prosaica que não existia na noite passada, e a pequena pata, encolhida e ressequida, jazia sobre o aparador com um desdém que deixava clara a falta de fé em seus poderes.

— "Acho que todos os soldados são iguais," disse a Sra. White. "A ideia de darmos ouvidos a esse tipo de bobagem! Como poderiam desejos se realizar hoje em dia? E mesmo que pudessem, de que forma duzentas libras fariam mal, hein, pai?"

— "Podem cair do céu direto na cabeça dele," disse Herbert, rindo.

— "Morris disse que as coisas aconteciam de maneira tão natural," comentou o pai, "que, se a pessoa quisesse, podia atribuir tudo à coincidência."

— "Bem, não gaste o dinheiro antes de eu voltar," disse Herbert, levantando-se da mesa. "Vai que o senhor vira um homem ganancioso, e a gente vai ter que fingir que não o conhece."

A mãe riu e, acompanhando o filho até a porta, observou enquanto ele seguia pela rua. Voltando ao café, estava visivelmente bem-humorada, zombando da credulidade do marido. Mesmo assim, isso não a impediu de correr até a porta ao som da batida do carteiro — nem de resmungar, ao descobrir que era apenas uma conta de alfaiate.

— "Aposto que o Herbert vai soltar mais alguma tirada quando voltar," disse ela, durante o almoço.

— "Provavelmente," respondeu o Sr. White, servindo-se de cerveja. "Mas, apesar de tudo, eu juro que aquela coisa se mexeu na minha mão."

— "Você só pensou que se mexeu," disse a esposa, tentando acalmá-lo.

— "Estou dizendo que mexeu," respondeu ele. "Não foi imaginação. Eu só—"  
Ele parou ao ver a expressão da esposa, que agora observava atentamente um homem estranho que se aproximava da casa.

O estranho parecia indeciso, parando no portão por três vezes antes de finalmente entrar. Usava roupas elegantes e um chapéu de seda reluzente. A Sra. White, ao pensar na quantia de duzentas libras, notou com atenção sua aparência formal.

Com um gesto nervoso, ela tirou o avental e o escondeu sob a almofada da cadeira. Trouxe o homem para dentro, onde ele parecia constrangido. Evitava encará-los diretamente e parecia hesitar para falar.

— "Eu... fui encarregado de vir aqui," disse ele, após algum tempo, retirando um fiapo do paletó. "Venho da firma Maw e Meggins."

A Sra. White empalideceu.

— "Aconteceu algo com Herbert?" perguntou, ofegante. "O que houve? Diga logo!"

O marido interveio, tentando acalmá-la.

— "Calma, querida. Não tire conclusões. Tenho certeza de que o senhor não traz más notícias."

— "Sinto muito..." começou o visitante.

— "Ele está ferido?" gritou a mulher.

O homem assentiu com a cabeça.

— "Gravemente ferido," respondeu, com voz baixa. "Mas não está sofrendo."

— "Graças a Deus!" exclamou a mulher. "Graças a Deus!"

Ela parou de repente, ao perceber o verdadeiro sentido daquelas palavras. Viu a confirmação em seu rosto sombrio. Cambaleou e segurou a mão do marido. Um longo silêncio se seguiu.

— "Ele foi... pego pelas engrenagens," disse o homem, por fim.

— "Engrenagens," repetiu o Sr. White, atônito. "Sim..."

Ficou olhando pela janela, apertando a mão da esposa, como fazia décadas antes, quando ainda eram jovens e apaixonados.

— "Ele era tudo o que tínhamos," disse ele, com doçura.

O visitante pigarreou e foi até a janela.

— "A empresa pediu que eu transmitisse suas condolências mais sinceras," disse ele, sem se virar. "Espero que compreendam: sou apenas um mensageiro, cumprindo ordens."

Nenhum dos dois respondeu. A Sra. White estava branca como cera, olhos fixos, respiração imperceptível. O marido parecia um homem que visse o horror pela primeira vez.

— "A Maw e Meggins não se responsabiliza oficialmente," continuou o visitante, "mas em consideração aos serviços prestados por seu filho, querem oferecer uma quantia como compensação."

O Sr. White soltou a mão da esposa e se levantou, com o rosto tomado pelo terror.

— "Quanto?" murmurou com lábios secos.

— "Duzentas libras," respondeu o homem.

Sem ouvir o grito da esposa, o velho esboçou um sorriso fraco, estendeu as mãos como um cego... e desabou no chão, inconsciente.

Parte IV (Final)

No novo cemitério, a cerca de três quilômetros dali, os velhos enterraram seu filho, e voltaram para uma casa mergulhada em sombras e silêncio. Tudo acontecera tão rapidamente que mal podiam compreender. Permaneciam num estado de expectativa — como se algo ainda fosse acontecer. Algo que aliviasse o peso esmagador da perda.

Mas os dias se passaram, e a expectativa deu lugar à resignação — a resignação sem esperança dos velhos, por vezes chamada de apatia. Trocaram poucas palavras. Agora, já não tinham o que dizer. Os dias eram longos, vazios, exaustivos.

Certa noite, cerca de uma semana depois, o velho acordou de repente. Esticou o braço e percebeu que estava sozinho. O quarto estava escuro, e ouviu-se o som contido de choro vindo da janela. Sentou-se na cama e escutou.

— “Volte para a cama,” disse ele, com ternura. “Você vai pegar frio.”

— “Está mais frio para o meu filho,” respondeu ela, e chorou de novo.

O som de seu pranto foi se apagando. A cama estava quente e os olhos dele, pesados de sono. Cochilou por um tempo até ser despertado por um grito selvagem vindo da esposa:

— “A pata!” gritou ela, desvairada. “A pata do macaco!”

Ele se levantou, assustado.

— “O quê? Onde está? O que houve?”

Ela cambaleou até ele.

— “Quero a pata,” disse ela, calma, quase em transe. “Você não a destruiu?”

— “Está na sala, na prateleira,” respondeu ele, confuso. “Por quê?”

Ela riu e chorou ao mesmo tempo. Inclinando-se, beijou-lhe a face.

— “Acabei de pensar nisso!” disse, quase histérica. “Por que não pensei antes? Por que *você* não pensou?”

— “Pensar no quê?” ele perguntou.

— “Nos dois outros desejos,” respondeu ela rapidamente. “Só usamos um!”

— “E não foi o bastante?” ele retrucou, com amargura.

— “Não!” exclamou ela, triunfante. “Vamos usar outro. Vá buscar a pata e deseje que nosso filho volte à vida!”

O homem sentou-se e afastou os cobertores com as mãos trêmulas.

— “Meu Deus... você enlouqueceu!” gritou ele, horrorizado.

— “Pegue-a!” ofegou ela. “Rápido! Deseje! Oh, meu menino, meu menino!”

O marido acendeu um fósforo e acendeu a vela.

— “Volte para a cama,” disse, trêmulo. “Você não sabe o que está dizendo.”

— “O primeiro desejo foi atendido,” disse ela, com febril convicção. “Por que não o segundo?”

— “Foi coincidência,” gaguejou ele.

— “Deseje!” gritou ela, estremecendo de emoção.

O velho virou-se para ela, hesitante.

— “Ele está morto há dez dias. Além disso — não queria dizer, mas... só o reconhecemos pelas roupas. Você não conseguiu vê-lo antes, como acha que vai suportar vê-lo agora?”

— “Traga-o de volta!” gritou ela, arrastando-o até a porta. “Acha que tenho medo do filho que criei?”

Ele desceu no escuro e, tateando, foi até a sala. Pegou o talismã sobre a prateleira. Um pavor indescritível o dominou ao imaginar que o desejo não pronunciado pudesse se realizar antes que ele saísse dali. A testa gelada de suor, procurou a porta às cegas, sentindo o coração disparar.

Até mesmo o rosto da esposa parecia diferente quando ele voltou. Estava branco, expectante, e havia nele algo... não natural. Ele teve medo dela.

— “Deseje!” ordenou ela, com voz firme.

— “Isso é loucura... e pecado,” murmurou ele.

— “Deseje!” repetiu ela.

Ele levantou a mão.

— “Eu desejo... que meu filho viva novamente.”

O talismã caiu no chão. O velho o encarou, trêmulo. Sentou-se, exausto, numa cadeira, enquanto a esposa, de olhos flamejantes, foi até a janela e levantou a cortina.

Ele ficou ali, imóvel, sentindo o frio da madrugada, lançando olhares furtivos à esposa junto à janela. A vela, queimar até o fim do castiçal de porcelana, projetava sombras pulsantes nas paredes e no teto... até que, com um último lampejo, apagou-se. O velho, aliviado por nada ter acontecido, voltou para a cama. Momentos depois, a esposa deitou-se ao seu lado, em silêncio.

Nenhum dos dois falou. Ficaram deitados, ouvindo o tique-taque do relógio. Um degrau da escada rangeu. Um rato correu atrás da parede.

A escuridão era opressiva. Após muito tempo, reunindo coragem, o velho pegou a caixa de fósforos. Acendeu um. Foi até o andar de baixo buscar uma vela.

No último degrau, o fósforo se apagou. Ele parou para riscar outro... e nesse momento, ouviu uma batida na porta. Tão fraca e furtiva que mal parecia real.

Os fósforos caíram de sua mão, espalhando-se pelo chão. Ele ficou parado, sem respirar. A batida se repetiu. Então, ele se virou e correu escada acima, fechando a porta atrás de si.

Uma terceira batida soou pela casa.

— “O que foi isso?” gritou a esposa, erguendo-se.

— “Um rato,” respondeu o marido, com a voz trêmula. “Passou por mim na escada.”

Ela sentou-se, escutando. Uma batida forte ecoou pela casa.

— “É o Herbert!” gritou ela. “É o Herbert!”

Correu até a porta, mas o marido a interceptou, agarrando-a com força.

— “O que vai fazer?” sussurrou ele.

— “É o meu filho! É o Herbert!” gritou ela, lutando para se soltar. “Esqueci que o cemitério fica a três quilômetros! Por que me segura? Solte-me! Preciso abrir a porta!”

— “Pelo amor de Deus, não deixe ele entrar!” implorou o velho.

— “Você tem medo do seu próprio filho!” ela retrucou. “Solte-me! Estou indo, Herbert! Estou indo!”

Mais batidas. Mais fortes. A mulher se soltou de um puxão e correu. O velho a seguiu pelo corredor, gritando seu nome. Ouviu o trinco, o ferrolho inferior... e a voz da esposa, ofegante:

— “A tranca! Venha, não alcanço!”

Mas ele estava de joelhos, tateando desesperado pelo chão, em busca da pata. Se ao menos a encontrasse antes que aquilo do lado de fora entrasse!

As batidas sacudiam a casa. Ouviu o arrastar de uma cadeira — a esposa estava tentando alcançar a tranca. O ferrolho chiou, voltando lentamente. No mesmo instante, o velho encontrou a pata... e fez seu terceiro e último desejo.

As batidas cessaram de repente. Ainda havia ecos pela casa, mas o som havia desaparecido. Ouviu-se o arrastar da cadeira, a tranca sendo aberta... e o som da porta.

Um vento frio subiu pela escada. Em seguida, um grito de desespero e angústia ecoou pela casa. O velho correu até a esposa. Depois, até o portão.

O lampião da rua, do outro lado da estrada, lançava sua luz trêmula sobre... um caminho vazio.

FIM

Sobre A Garra do Macaco

Publicado originalmente em 1902, A Garra do Macaco (The Monkey’s Paw) é o conto mais famoso do escritor britânico W. W. Jacobs (1863–1943). Embora Jacobs tenha se dedicado principalmente à literatura de humor e marinha, este breve e sombrio conto de terror o eternizou no imaginário popular.

A história gira em torno de um artefato mágico — uma garra de macaco que concede três desejos ao seu portador — mas sempre com consequências terríveis. Trata-se de um conto que lida com temas como destino, ganância, luto e o peso das escolhas, mantendo o suspense e o horror até sua última linha.

Desde sua publicação, o conto foi adaptado inúmeras vezes para teatro, rádio, cinema e televisão. Inspirações e releituras surgiram em séries como The Twilight Zone, Os Simpsons, Tales from the Crypt, no programa Incrível, Fantástico, Extraordinário da década de 90 da Manchete e diversas outras produções de terror contemporâneo.

Apesar da simplicidade de sua trama, o impacto de A Garra do Macaco reside em sua construção atmosférica, no terror sugerido — mais psicológico do que gráfico — e na forma como nos lembra que “mexer com o destino” pode trazer consequências irreversíveis.

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