terça-feira, 29 de abril de 2025

O Bode de Mendes

O garoto segurava firme a mão do pai enquanto desciam pela garganta da caverna. A entrada mal se distinguia na encosta rochosa, coberta por musgos e raízes, como uma boca que preferia ficar fechada. O pai sorria, com aquele brilho nos olhos de quem conhecia um segredo.

— Não tenha medo, Tomás — disse ele. — Lá dentro tem só silêncio e pedra. É um lugar seguro.

A lanterna emitia uma bruxuleante luz amarelo-quente. A caverna parecia respirar em silêncio. A cada passo, a escuridão os engolia mais.

segunda-feira, 28 de abril de 2025

Perseguição Sombria

Era madrugada alta quando Ronaldo pisou fundo na estrada deserta, a caminho do Rio de Janeiro. No banco do passageiro, um sorte de muambas do Paraguai — relógios digitais, perfumes "franceses" e a caixa do seu recém-instalado tesouro pessoal: um rádio automotivo novo, reluzente, soltando as batidas eletrônicas de uma música pop recém-lançada.

Finalmente conseguiu comprar algo de bom e diferente para trazer para a turma a um preço decente. Ronaldo estava realmente satisfeito. As coisas estavam muito difíceis, mas ele sentia que estava conseguindo se virar.

O céu estava limpo, mas um vento estranho varria a pista com cada vez maior frequência, uivando entre as árvores retorcidas. Ele aumentou o volume, tentando ignorar a sensação incômoda que crescia com a solidão da estrada.

Foi quando viu o ônibus.

terça-feira, 22 de abril de 2025

A Lenda do Vinho Casillero del Diablo

Dizem que tudo começou em 1883, quando Dom Melchor de Concha y Toro trouxe da França as primeiras videiras que mudariam o destino daquelas terras chilenas, que cruzaram o oceano num navio envolto por brumas e silêncios, observadas apenas pelas gaivotas e pelo som do vento sobre o mar. Eram cepas nobres, lendárias, cujas raízes fincaram-se em solo fértil como se já o conhecessem.

Com o tempo, aquelas uvas deram origem a um vinho profundo, escuro, quase místico. Dom Melchor, consciente de sua preciosidade, separou algumas das melhores garrafas e as guardou sob chave, em um lugar secreto de sua bodega — um subterrâneo sombrio, conhecido apenas por ele.

segunda-feira, 21 de abril de 2025

A Garra do Macaco

Parte I

Lá fora, a noite estava fria e chuvosa, mas na pequena sala da Villa Laburnam, as cortinas estavam fechadas e o fogo ardia vivamente. Pai e filho jogavam xadrez — o primeiro, cujas ideias sobre o jogo envolviam mudanças radicais, colocava seu rei em perigos tão agudos e desnecessários que até provocavam comentários da senhora de cabelos brancos que tricotava pacientemente ao lado da lareira.

— "Escute esse vento," disse o Sr. White, que, tendo percebido um erro fatal tarde demais, agora tentava evitar que o filho o notasse.

— "Estou ouvindo," respondeu o outro, fitando o tabuleiro com seriedade enquanto estendia a mão. "Xeque."

domingo, 20 de abril de 2025

Nós vivemos...novamente!

Depois de muito deliberar, resolvi fazer mais uso do blog e conteúdo que me foram herdados e retomar o Contos do Mausoléu, mas de agora de uma forma focada, de fato, em histórias horripilantes mesmo.

O nosso andamento daqui pra frente, no primeiro momento, vai ser repassar o conteúdo que tem aqui, que for aproveitável, para o VaLeW, seja pro Jogos de Zumbi, Laminha, Bolonha Club, Games de Corrida ou onde for conveniente. Isso significa que, no momento, teremos aqui no Contos de Mausoléu o total de 1 (um) conto, embora isso possa mudar eventualmente, mesmo sem termos finalizado o arquivamento e a curadoria do conteúdo em outros sites.

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